domingo, 17 de maio de 2009

Trecho do meu futuro livro

Não era apenas um passageiro do metrô naquela noite, deslocando-se a toda velocidade para um ponto qualquer da cidade de Nova Iorque. Sob aqueles trilhos, minha vida buscava mudanças e era impossível prever qual seria meu destino. Era como a estrada perdida nas montanhas do Tibet rumo à mítica cidade de Shangrilá.
O tempo passava tão rápido ali dentro e estabelecer algum contato, fazer amizades descartáveis, conversas relâmpago eram difíceis, mesmo com o vaivém de velhos e novos companheiros de viagem a cada estação. As noites de domingo devem ter a mesma cara de monotonia em várias partes do mundo, praticamente não há nada a se fazer e os vagões do metrô quase solitários com seus bancos vagos, retratavam muito bem o vazio das pessoas e me lembravam do medo que eu sentia pelo escuro, quando garoto pequeno. A escuridão trazia consigo um sentimento de insegurança e vazio, porque as pessoas se assustavam com a hipótese de ficarem na escuridão, sozinhas e perder a falsa sensação de companhia, trazidas pela eletricidade e bens de consumo eletroeletrônicos. Não era diferente comigo e temia o inesperado diante da escuridão, acreditando que a maldade se manifestava com grande intensidade na ausência da luz e a qualquer instante algo muito ruim poderia acontecer. Passados tantos anos, tenho mais medo da luz, porque nela é que se planeja o mal e faz-se o uso de máscaras para as mentiras serem encobertas por um belo jogo de palavras.
Dispersos entre os bancos daquele vagão, tipos variados de pessoas deslocavam-se para algum lugar e ao meu lado, poderia sentar-se a mocinha feliz indo ao encontro do seu amor, mas bem que poderia tomar lugar a garota de tristes olhos azuis opacos, cobertos de melancólica solidão e amargando a dor da traição, o fim de uma paixão. Poderia ainda, ser companheiro de alguém com idéias parecidas, ou um cara frustrado, divagando em seus pensamentos sobre se é possível haver verdadeira felicidade neste mundo, deixando de encarar a vida para juntar-se aos que partiram temendo seus fantasmas.
Seria bem mais fácil se houvessem asas para viajarmos aos nossos sonhos, mas elas foram negadas para embarcarmos nessa viagem e nos confraternizarmos com os eternos companheiros, passageiros ou fantasmas, até chegarmos ao nosso destino final.

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